A criação da cronometragem perfeita - SWI
Por um escritor misterioso
Last updated 08 novembro 2024
A fábrica do tempo está localizada num discreto e apartado paralelepípedo de concreto armado, em um dos vales do Jura, terra dos relógios suíços. Os equipamentos de precisão, para medir o desempenho dos atletas olímpicos, nascem na zona rural do povoado de Corgémont, noroeste da Suíça. Os cronômetros criados ali vão registrar a diferença entre o sucesso e o fracasso, a glória e a derrota na Olimpíada do Rio de Janeiro. O tempo escorre já na fachada do galpão num relógio digital. As frações menores são marcadas por outros aparelhos, em fase final de testes, no interior do prédio. Logo na entrada, uma pequena pista de atletismo serve de tapete vermelho para os visitantes. E ali, eles já tomam contato com a tecnologia de ponta, responsável pela homologação dos resultados oficiais. A simulação anfitriã contém a nova barreira quádrupla de células fotoelétricas, o bloco de partida e a pistola eletrônica, além da câmera de “photofinished”. A duas barreiras paralelas estão instaladas nas extremidades da linha de chegada. Elas possuem quatro sensores cada uma. “ Antes eram dois sensores. Agora, com quatro, duplicamos a precisão. A contagem do tempo para se, pelo menos, duas células são atravessadas”, explica o diretor de Omega Timing, Alain Zobrist, para A evolução aumenta a capacidade de enquadrar a área obrigatória do corpo que deve cruzar a linha final no fim da prova. A regra do atletismo diz que vale a passagem do dorso do atleta e não a ponta do nariz ou das mãos, por exemplo. “ Essas barreiras interrompem a contagem, mas o resultado final é dado pela câmera de photofinished, ali em cima”, aponta o diretor para o alto da parede, onde está o novo equipamento alinhado com as duas barreiras pousadas no chão. O silencioso e imóvel bloco de partida parece quieto. Na realidade, ele armazena e emite informações para a sala de controle. O som da partida eletrônica é transmitido para uma caixa acústica localizada na estrutura, assim todos os atletas ouvem o tiro ao mesmo tempo. E na base dos apoios para os pés também foi montado um sistema que monitora a pressão exercida pelo corredor. “Nossa primeira medida é o tempo de reação. Quem se mexer antes de 1/10 de segundo depois do disparo vai ter a partida anulada. Assim podemos ver quem queimou a largada”, explica o diretor técnico. Piscina tecnológica Alguns metros mais adiante, uma pequena plataforma chama a atenção. As cores azul e branca remetem para a natação. O bloco de partida incorpora uma novidade para os nadadores de costas, fruto de uma antiga reivindicação dos atletas e já em fases de teste. Duas alças descem pelas laterais do bloco de largada. Na linha d’água, uma faixa horizontal liga ambas as tiras perpendiculares. A sua regulagem prevê cinco posições distintas para o apoio dos dedos dos pés. “ Essa melhoria serve para dar maior impulso no momento da decolagem dos atletas quando eles saltam de costas no começo da prova”, explica o diretor Alain Zobrist. Ela também evita um escorregão imprevisto e que poderia custar uma medalha. “ Sim, o grande “feedback” chega dos competidores. São eles, além de nossos técnicos e engenheiros, quem nos dão as indicações para implantar as melhorias. Claro, tudo de acordo com as regras das federações que devem aprovar as mudanças”, explica o diretor. A outra inovação estará no fundo da piscina. Normalmente, nas provas de longa distância, como os 1.500 metros masculino ou os 800 metros feminino, ambas em estilo livre, o juiz, até então, mostrava um cartão com a contagem regressiva. Agora, um sistema visual foi instalado embaixo da raia. “Assim, o atleta não precisa olhar para cima a cada virada. Ele vai ler no fundo d’água. O monitor será instalado no fundo, aos 35 metros, a partir do lado oposto ao da largada”, diz o diretor. Na natação, ao contrário do atletismo, os técnicos da Omega não podem instalar o sistema que assinala o alívio da pressão no bloco de largada para detectar uma falsa partida. Isso porque a Federação Internacional de Natação afirma que é o juiz quem decide, visualmente, se um atleta queimou ou não a saída. “ Este é um método diferente. Nesse esporte, o corpo está mais instável e é mais fácil perceber um movimento fora do padrão”, explica Alain Zobrist. Mesmo assim, um sensor registra o tempo de reação dos atletas antes do pulo na piscina. Tecnologia imputável Os juízes são soberanos no poder de julgar uma prova. O exército de 480 cronometristas da Omega que vai desembarcar no Rio de Janeiro tem como único objetivo marcar o tempo e dar todo o suporte técnico para as tomadas de decisões. Os oficiais de provas são as únicas pessoas com autorização para a divulgação dos resultados. Os técnicos cronometristas são provedores e mensageiros das informações visuais e cronométricas coletadas nos campos de prova. Um caso famoso foi a chegada dos 100 metros borboleta masculino em Pequim, em 2008. O sérvio Milorad Cavic pareceu ter tocado a borda antes do americano Michael Phelps, declarado vitorioso com 50.58 contra 50.59, conquistando a sétima medalha de ouro, a penúltima das oito que levaria para casa, batendo o recorde do nadador americano Mark Spitz. Por uma fração de tempo e a olho nu, para o público o vencedor tinha sido o primeiro. Para a surpresa geral, a vitória foi dada ao segundo, por um centésimo de segundo, a menor diferença possível de ser calculada. O juiz foi obrigado a ver a câmera especial, no alto de cada raia, capaz de fotografar 100 imagens por segundo. Os registros visual e eletrônico confirmaram a medalha de ouro para Michael Phelps. E o técnico do sérvio nem precisou apresentar protesto. Nos Jogos de Londres, em 2012, o troco a Michael Phelps veio na final dos 200 metros borboleta. Ele perdeu para o sulafricano Le Clos porque chegou muito “ lento” no “touchpad” instalado na borda. Um erro que a tecnologia não perdoa. E desta vez a diferença foi de três centésimos. Não basta tocar levemente ou acariciar o painel. O nadador tem que empurrá-lo com uma pressão acima daquela provocada pelas ondas das braçadas. Isso significa “ afundar” o painel em 2 ou 3 milímetros, com uma força entre 1,5 e 2,5 kg. “ Se assim não fosse, bastaria a marola criada pelo atleta para parar o cronômetro. Você tem que terminar a prova”, precisa o diretor Alain Zobrist. Ele continua: “ sim, poderíamos marcar até os milésimos, mas adequamos os nossos equipamentos às regras. Sem autorização para marcar os milésimos calibramos os equipamentos para apenas os centésimos”, explica o diretor sobre os limites técnicos. Pixels, milímetros e centésimos A ponta de diamante dos juízes e cronometristas é a nova telecâmera usada no atletismo. Parece uma escultura tecnológica. Ela é capaz de bater dez mil fotos por segundo, “retarda” o tempo e revela detalhes impossíveis de serem notados a olho nu. A reprodução da imagem transforma cada respiração, cada movimento do atleta num pixel, um instante digital. Assim, a distância entre os concorrentes pode ser comparada com este novo valor de medida, o pixel A grande vantagem da empresa em relação aos concorrentes é que ela encerra o ciclo completo. “ Ou seja, nós fabricamos os equipamentos e também os programas para processar os dados. Temos o inteiro controle desse processo, desde o bom funcionamento da pistola eletrônica até o envio dos dados, em tempo real, para os juízes e para o público”, diz com uma ponta de orgulho, Alain Zobrist Não é simples ter um fio condutor comum para os 28 esportes diferentes dos Jogos Olímpicos de Verão. Do golfe à vela, do arco e flecha ao futebol, do atletismo à natação, cada modalidade tem sua especificidade. A necessidade de adaptação é uma condição fundamental. “ Não existe um esporte mais difícil de cronometrar, mas o atletismo exige muito de nós porque diversas provas ocorrem ao mesmo tempo, numa mesma área, dentro e fora da pista”, afirma Alain Zobrist. Em silêncio, ali ao lado, um técnico estuda as frequências, os campos magnéticos e afina os instrumentos que farão a diferença nas competições contemporâneas, sem misturar os resultados. O equipamento será testado, preparado e embalado dentro de uma caixa especial, revestida internamente com material antichoque. Dentro dela segue o resultado de quatro anos de avanço tecnológico. Uma evolução que atende ainda pelo nome de precisão. Aqui, tudo corre a favor do tempo. Numa Olimpíada ao contrário, os atletas correm contra o tempo. Alguns dados Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro serão usados: 200 km de cabos de fibra ótica; 79 placares eletrônicos; 450 toneladas de equipamentos; 480 cronometristas e técnicos; 850 voluntários, 335 placares esportivos específicos. A pistola eletrônica foi usada pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Vancouver, Canadá, em 2010. Ao ser acionada, ela “dispara” um som, um flash de luz e cronômetro. Cada bloco de partida possui um alto-falante que reproduz o som da pistola no exato momento dos disparos. Dessa forma, se anula o tempo de reação diferente dos atletas mais próximos do juiz de largada. Essa vantagem acontecia no sistema tradicional devido à velocidade do som. O bloco de partida do atletismo possui um sensor para detectar o corredor que “ queimar “ a largada. Ele detecta o valor da pressão dos pés antes do sinal da partida e o transforma numa “ curva gráfica” a uma velocidade de 4 mil vezes por segundo. Assim se pode até descobrir quem “ induziu” quem a sair na frente e responsabilizar o verdadeiro culpado. As fotocélulas para a chegada “ tira teima” foram usadas pela primeira vez em 1948, nos Jogos de Londres. Nos Jogos do Rio haverá um inédito sistema de pontuação eletrônico para o arco e flecha. O novo alvo tem dois “scanners” que calculam a distância da flecha do centro absoluto. O resultado sai em 1 segundo depois do impacto. O golfe volta aos Jogos depois de 112 anos de ausência. Painéis possuem um sistema de radar capaz de medir e informar a velocidade e altura da bolinha, a distância dos 18 buracos. O novo placar para o público vai mostrar imagens e textos e, novidade, animação gráfica. Você vai acompanhar de perto os Jogos Olímpicos?
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